E de repente nos pegamos fazendo
uma viagem a lugares e momentos que nos marcaram através dos sentidos, como o
cheiro de infância na escola, um cheirinho que se mistura com o dos materiais
escolares, o álcool das tarefas passadas no mimeógrafo, o doce do suco de
morango nas lancheiras e o cheiro de escola que talvez fosse a junção de todos
esses cheiros e outros mais. E como não sentir-se saudoso com o cheiro de
fumaça das fogueiras que nos remete ao tempo em que a festa junina era a época
mais gostosa e divertida do ano, os trajes xadrez e florido, o chapéu de palha
e as calças jeans com remendos, os bigodes falsos feitos com tinta ou lápis
hidrocor, a quadrilha junina que era o ponto alto da festa, (particularmente me
deixava imensamente feliz, dançar quadrilha era como ganhar um brinquedo, era o
auge da alegria) as comidas... Nossa! O milho nunca foi tão gostoso quanto na
infância, aliás, nada foi tão gostoso quanto na época da simplicidade, onde só
precisávamos nos preocupar pra não sujar a roupa nova na hora de brincar, onde
brinquedos falavam, onde o medo era irreal, onde ser feliz era fácil. Quem
nunca ouviu uma música que nunca parou pra cantar mas que ouviu muitas vezes quando
era criança e hoje quando toca cantarola e diz: ‘’Eita! Essa é antiga’’. Tem a música
que não sabemos porque mas nos faz sentir saudade de algo que nem sabemos o que
é, tem música que nos faz sorrir e parar pra reviver momentos, tem música que
buscam um vazio dentro de nós e o torna ainda maior. Encontrar um objeto antigo
e sentir seu material ou ver uma árvore que fez parte das brincadeiras, até mesmo
o chão, uma parede, um lugarzinho que se salvou da destruição das pessoas ou do
próprio tempo, ter nas mãos um brinquedo antigo ou o pedaço de algo que restou
de um desastre, rever uma imagem de um desenho animado da tv, uma série ou
mesmo uma foto nos causam sensações gotosas de momentos únicos. Sempre teremos algo pra nos fazer pensar que a
vida é curta e o tempo passa depressa e junto com ele passam certas coisas que
vão deixando seus pedaços em algum lugar dentro de nós, que nos causam angústia
ou alegria. Porém melhor do que pensar no que teve é cuidar do que tem, melhor
do que chorar por ter tido e perdido e ter e preservar. É melhor não deixar o
que tem se quebrar, mas se quebrar tente colar e tenha cuidado redobrado, sentir
saudade é bom, ter sempre presente é melhor ainda.
''Kadu Oliveira''
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