quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Saudosismo

E de repente nos pegamos fazendo uma viagem a lugares e momentos que nos marcaram através dos sentidos, como o cheiro de infância na escola, um cheirinho que se mistura com o dos materiais escolares, o álcool das tarefas passadas no mimeógrafo, o doce do suco de morango nas lancheiras e o cheiro de escola que talvez fosse a junção de todos esses cheiros e outros mais. E como não sentir-se saudoso com o cheiro de fumaça das fogueiras que nos remete ao tempo em que a festa junina era a época mais gostosa e divertida do ano, os trajes xadrez e florido, o chapéu de palha e as calças jeans com remendos, os bigodes falsos feitos com tinta ou lápis hidrocor, a quadrilha junina que era o ponto alto da festa, (particularmente me deixava imensamente feliz, dançar quadrilha era como ganhar um brinquedo, era o auge da alegria) as comidas... Nossa! O milho nunca foi tão gostoso quanto na infância, aliás, nada foi tão gostoso quanto na época da simplicidade, onde só precisávamos nos preocupar pra não sujar a roupa nova na hora de brincar, onde brinquedos falavam, onde o medo era irreal, onde ser feliz era fácil. Quem nunca ouviu uma música que nunca parou pra cantar mas que ouviu muitas vezes quando era criança e hoje quando toca cantarola e diz: ‘’Eita! Essa é antiga’’. Tem a música que não sabemos porque mas nos faz sentir saudade de algo que nem sabemos o que é, tem música que nos faz sorrir e parar pra reviver momentos, tem música que buscam um vazio dentro de nós e o torna ainda maior. Encontrar um objeto antigo e sentir seu material ou ver uma árvore que fez parte das brincadeiras, até mesmo o chão, uma parede, um lugarzinho que se salvou da destruição das pessoas ou do próprio tempo, ter nas mãos um brinquedo antigo ou o pedaço de algo que restou de um desastre, rever uma imagem de um desenho animado da tv, uma série ou mesmo uma foto nos causam sensações gotosas de momentos únicos.  Sempre teremos algo pra nos fazer pensar que a vida é curta e o tempo passa depressa e junto com ele passam certas coisas que vão deixando seus pedaços em algum lugar dentro de nós, que nos causam angústia ou alegria. Porém melhor do que pensar no que teve é cuidar do que tem, melhor do que chorar por ter tido e perdido e ter e preservar. É melhor não deixar o que tem se quebrar, mas se quebrar tente colar e tenha cuidado redobrado, sentir saudade é bom, ter sempre presente é melhor ainda.

''Kadu Oliveira''